Este é o retrato de uma época marcada por altos e baixos. O que parecia certo nunca mais chegava. Foi preciso esperar, adiar e acatar com muita paciência o resultado que todos os adeptos benfiquistas rogavam: o 38.ª campeonato da história do Sport Lisboa e Benfica. A festa fez-se num inferno, que começou na Luz – no estádio que ao longo da época recebeu quase sempre 60 mil adeptos – e alastrou pela capital pintada a encarnado.
Os benfiquistas nunca tiveram tanto orgulho em partilhar os melhores momentos. Sem surpresa, o jogo em casa mais visto e mais partilhado pelos adeptos foi a partida que deu o título ao SL Benfica, frente ao Santa Clara. Dados da NOS mostram que, durante o jogo da conquista do campeonato, o consumo de dados dos adeptos foi duas vezes superior à média dos restantes jogos da Liga do 1.º Estádio 5G em Portugal. Mas há mais momentos marcantes da época que levaram os adeptos encarnados a sentir o Inferno da Luz.
Depois de uma época terminada com 87 pontos, 28 vitórias, três empates e três derrotas, 82 golos marcados e 20 sofridos, com o melhor ataque e a melhor defesa, nem uma única partida da Liga sem que as bancadas não se levantassem para celebrar um golo em casa, líderes do primeiro jogo até ao último. Chegou ao fim o jejum de títulos.
24 de maio de 2022
Ainda na ressaca de uma época falhada, dois dias voltados do final do campeonato vitorioso para o FC Porto, aterrou na Portela o homem escolhido por Rui Costa para recuperar um Benfica perdido: Roger Schmidt. Com um currículo que dizia pouco de títulos – trazia uma Taça e uma Supertaça com o PSV dos Países Baixos –, o que se sabia? Gosta de bola, gosta de futebol. E quem gosta de futebol...
Quem gosta de futebol gosta do Benfica
Agosto de 2022
Numa pré-época com poucos sinais de fraquezas, viu-se um cheirinho deste Benfica rejuvenescido: equipa boa de bola, em corrida confiante para a frente e eficaz na baliza adversária. Resultado de algumas apostas distintas do treinador na espinha dorsal do grupo – no final do campeonato afirmou que não reparou no início da época que a equipa não ganhava nada há três anos.
Mais voltados na direção da baliza, João Mário e Rafa ganharam nova vida, um novo fôlego aliado à mestria de dois líderes no balneário. Atrás, António Silva, a revelação, tomou as rédeas no eixo da defesa.
O António tem 18 anos, mas se o virem a jogar, não joga como um miúdo de 18 anos
Lá na frente, ganhou terreno Gonçalo Ramos, o novo “9”, que se tornou indiscutível no onze – esteve em 30 dos 34 jogos da Liga esta época, totalizou 2305 minutos, visou a baliza adversária com 19 tentos, 15 dos quais marcados em casa, golos que fizeram tremer as cadeiras vermelhas e brancas na Luz.
Gonçalo Ramos foi o autor de alguns dos golos mais partilhados pelos benfiquistas esta época: o golo frente ao Sporting, no Estádio da Luz, aos 37 minutos, e o golo que abriu caminho para a conquista do campeonato, frente ao Santa Clara, aos tenros 7 minutos de jogo. Mas, o golo que mais frenesim causou nas bancadas do Estádio 5G pertence a João Mário, no jogo frente ao Casa Pia.Não é surpreendente. Depois de já ter marcado aos 35 minutos, João Mário repetiu a dose aos 43 minutos – o médio marcou o 12º golo na prova e o 19º golo com a camisola do SL Benfica. Foi um dos jogadores mais utilizados na Liga (a par do guarda-redes Vlachodimos, Otamendi, António Silva, Grimaldo, Florentino, Fedrik Aursnes, Rafa e Gonçalo Ramos) e terminou a melhor época da carreira com 17 golos marcados no campeonato.
Para o meio-campo, depois de dois anos de empréstimos inconstantes, regressou Florentino, agora campeão pelo Benfica pela segunda vez na carreira. Veio para formar uma dupla quase perfeita com Enzo Fernández. Mas como tudo tem um fim...
De novembro a janeiro
Chegou no verão e serviu demasiado bem as águias até ao período do Mundial, prova que partiu a época a meio. Na primeira metade implacável dos encarnados – com 12 vitórias, um empate (frente ao Vitória SC em Guimarães) –, o argentino pautou o meio-campo com exibições sensacionais (que deixaram saudades, se não deixaram, no regresso). Já se sabia que não ia ficar por muito tempo. O que não se sabia é que ia acabar por ficar por tão pouco.
Pós-Qatar, os encarnados regressaram à competição com a primeira derrota da época, na Pedreira, por três bolas a zero, frente ao SC Braga. De Enzo já corriam notícias... O melhor jogador jovem do Mundial estava envolto em conversas de milhões. Pairavam fantasmas em campo à volta do argentino, com uma atuação muito aquém do que havia habituado os adeptos.
As águias seguiram jogo com uma vitória por vantagem mínima em casa ante o Portimonense – num jogo que estreou o novo espetáculo de luz e som do Estádio da Luz, com o momento do ecoar do hino a tornar-se viral. O resultado não foi além do 1-0, consumado a partir da marca de grande penalidade – um penálti convertido por João Mário, dos três assinalados (dois validados). No decorrer dos 90 minutos ainda chegou a ameaçar-se o empate. Sobre Enzo continuavam as conversas, isto fora de campo, porque o nome do argentino nem à ficha de jogo foi, depois de ter sido o tema da semana entre o início do ano civil e a noite de Reis.
Mais uma semana volvida e voltou a soar o apito inicial, não sem antes a nova iluminação e sonoridade percorrer o campo e as bancadas, na companhia dos novos painéis LED a dividir os anéis e dois ecrãs gigantes nos topos do 1º Estádio 5G de Portugal. Tudo a postos para receber o dérbi eterno, com os dois maiores emblemas da capital a enfrentaram-se no Estádio da Luz. Resultado? Um dérbi quente, com alguns dos melhores minutos de futebol da presente época, que levou os adeptos a viver as emoções ao rubro – o dérbi na Luz foi o segundo jogo mais partilhado da temporada. Ninguém ganhou. O Benfica perdeu o estatuto de equipa 100% vitoriosa em casa na Liga e deixou fugir dois pontos.
No fecho da primeira volta, o Benfica foi aos Açores vencer com um regresso das exibições de luxo de Enzo. Passou depois por Paços de Ferreira e juntou três pontos ao somatório na liderança do campeonato. No último dia do mercado de inverno, as águias não tremeram na deslocação a Arouca – venceram por 3-0. Enzo não viajou com a equipa.
No último dia do mercado e depois de cinco meses no Benfica, chegou a confirmação do ponto final da novela: Enzo Fernández ruma ao Chelsea, na segunda maior venda da história das águias, por 121 milhões de euros. Para trás ficou uma formação encarnada desfalcada e em estado de alerta.
Abril de 2023
Com Chiquinho a ocupar a vaga no meio-campo, o Inferno da Luz foi à loucura com uma série de vitórias em casa (que se espelhavam nos jogos fora). Cumpriram-se os deveres, com alguns sustos pelo meio, mas o que interessava era o resultado no apito final e esse foi sendo positivo, com três pontos sucessivos no bolso.
Começava o mês de abril, no Domingo de Ramos, e o Benfica foi ao terreno no qual o FC Porto tinha pedido de forma clara e saiu de lá, depois de um jogo intenso, complicado e duro, com uma vitória na véspera da receção aos dragões. Numa Sexta-Feira Santa, no Estádio da Luz, o Benfica perdeu o jogo que podia vir a mudar a época (não mudou...). A partida terminou com a equipa vermelha e branca irreconhecível. Mau momento? Crise? A verdade é que a sina continuou e o Benfica foi a Chaves perder pelo segundo jogo consecutivo na Liga – com o FC Porto a encurtar a distância para o líder. A margem de 10 pontos que parecia confortável deixou de o ser e passou para quatro pontos de oxigénio a separar primeiro e segundo no topo da tabela.
Falou-se em escassa rotação do plantel, poucas soluções táticas, quebra de rendimento, relaxamento... Mostravam-se sinais de súplica física e mental. O Benfica precisava de um abanão forte e veio com nome de sangue novo.
Fim de abril e maio de 2023
Roger Schmidt deu um passo atrás e foi buscar novas ideias no ataque, ao sabor de Neres – o reforço que aterrou no verão com ares de imprevisibilidade e energia frenética nos pés – e Neves, o pequeno-gigante dono da bola. Com sangue novo, o ímpeto voltou a mudar e o líder mostrou-se com uma nova frescura, que se traduziu em quatro vitórias consecutivas na Liga e uma margem para os rivais que foi conservando.
Ou és campeão ou não és, ainda não está decidido. Respeito muito o futebol e qualquer adversário, é claro que estamos numa situação muito boa e podemos sê-lo com mais uma vitória, mas será um jogo muito difícil contra o Sporting na próxima jornada.
O título podia ter ficado decidido em casa do rival Sporting, num jogo regado a emoção, que acabou por deixar marcas no caminho para a decisão do título. É que se o líder podia ter cravado ali o cetro, saiu de Alvalade com dois pontos de distância para o FC Porto. O empate, com o 2-2 a chegar aos 94 minutos de jogo pelos pés do menino de ouro João Neves, alimentou o sonho de o Benfica ser campeão, mas deixou tudo em aberto para a última jornada.
27 de maio de 2023
O título jogou-se no Estádio da Luz, no último jogo da época, num frente a frente ante o já despromovido Santa Clara. Nas bancadas viveram-se momentos emotivos com o cântico do hino, momento em que se atingiu o pico máximo de users 5G durante a partida. Se antes do apito, o nervosinho ainda parecia abrir margem para eventuais surpresas – porque toda a gente sabe que jogo é jogo e são 90 minutos para decidir um vencedor –, depois de a bola começar a rodar, pouco tempo faltou até o Benfica abrir o marcador – aos 7 minutos de jogo com uma cabeçada mortífera de Gonçalo Ramos. O apoio fervilhava nas bancadas e os benfiquistas partilharam em massa os momentos emocionantes da partida – este foi o jogo mais partilhado do ano no Estádio da Luz. Aos 28 minutos, Rafa Silva alargou o marcador para dois golos, numa bela jogada de João Mário, Ramos e Rafa, que levantou as bancadas da Luz. Nas bancadas e nas redes sociais já só se gritava "o campeão voltou!". Com o jogo a ser gerido com calma, sem grandes hipóteses para o adversário e com ritmo preciso, chegou a sentença: o 3-0, aos 58 minutos, num penalti convertido por Grimaldo, o “senhor” que diz adeus após oito épocas ao serviço do Benfica. A festa fazia-se nas bancadas, onde ninguém aguentou sentado. Os cânticos entoavam, cada vez mais ferozes.
Eis o 38. E o Inferno da Luz ao rubro. O campeão voltou.
A equipa que tem mais pontos ao final de 34 jornadas, quem marcou mais e sofreu menos, merece ser campeã
Estádio da Luz, o 1.º Estádio 5G em Portugal
Não faltaram momentos para partilhar com o mundo, desde o jogo mais partilhado do ano, o frente a frente entre SL Benfica e Santa Clara, com o dobro dos dados consumidos em comparação com os restantes jogos em casa, ao golo que levou a Luz à loucura – o tento de João Mário frente ao Casa Pia – e o hino que encheu o peito de orgulho, no jogo com o Boavista. A NOS e o SL Benfica mudaram o jogo para que os mais de 65 mil adeptos que o estádio comporta tivessem informação em tempo real, pudessem enviar e receber vídeos de forma quase instantânea e permitisse ver um jogo de uma forma mais vibrante e imersiva do que nunca. O estádio do Sport Lisboa e Benfica é o primeiro estádio 5G em Portugal, tecnologia que permitiu aos adeptos encarnados viver o Inferno da Luz.
A NOS acompanhou os momentos mais exclusivos da celebração junto dos adeptos no Estádio da Luz e no Marquês de Pombal, com o humorista Daniel Leitão e a jogadora do Benfica Kika Nazareth a desempenharem o papel de Repórter 5G.